Na sociedade atual, onde as relações muitas vezes se definem pelo interesse, a frase “você só vale o que tem” ecoa de maneira assustadoramente verdadeira. A valorização de uma pessoa está, frequentemente, ligada não ao seu caráter ou suas qualidades intrínsecas, mas ao que ela possui – seja patrimônio financeiro, influência, ou poder político. Esse cenário evidencia uma realidade difícil, onde o reconhecimento é condicionado a ganhos e benefícios e onde as conexões humanas se tornam transações, promovendo uma cultura de descartabilidade emocional.
Durante o período eleitoral, por exemplo, o “valor” das pessoas se eleva, especialmente daqueles que detêm alguma influência social, seja por meio do voto ou das redes sociais. Candidatos e partidos investem em construir pontes e conexões temporárias, ressaltando a importância do eleitor e exaltando a relevância da participação de cada um. Nessas ocasiões, o indivíduo sente-se valorizado, chamado para conversas, discussões, eventos e outros encontros de interesse. Porém, quando o período eleitoral se encerra, também cessa, muitas vezes, esse “valor“.
Este fenômeno vai além da política e é sentido também em outros aspectos da vida social. Quem possui um patrimônio ou leva uma vida financeiramente confortável geralmente desfruta da atenção dos que o cercam. Convites para jantares, almoços, festas e encontros são frequentes, enquanto conversas descontraídas e brindes parecem surgir com naturalidade. Por outro lado, se as pessoas descobrem que alguém está atravessando dificuldades financeiras, as portas e os convites se fecham. Amigos e conhecidos que antes buscavam companhia e conselhos, agora parecem se ausentar, ignorando e evitando até mesmo um simples cumprimento.
Esse comportamento revela a fragilidade das relações construídas sobre o que a pessoa possui, em vez do que ela realmente é. A superficialidade do vínculo reforça um ciclo de solidão para quem vive altos e baixos na vida financeira, alimentando uma cultura de isolamento e desprezo por quem, em algum momento, encontra-se em situação adversa.
A valorização condicional das pessoas com base no que elas possuem nos leva a questionar qual é o papel do verdadeiro afeto, amizade e solidariedade. Em uma sociedade que enxerga o “ter” acima do “ser”, há espaço para relações genuínas?
Leave a Reply