Você perdeu o emprego, brigou com a família, levou um fora, quebrou o carro, e ainda tropeçou no tapete da sala. Naturalmente, vem a pergunta: “De quem é a culpa?”
Não generalizando, é claro (porque sempre há exceções e, às vezes, a culpa é mesmo do tapete), resolvemos conduzir uma investigação ampla, popular e um pouco esotérica. O resultado? Uma enxurrada de culpados. Acompanhe:
Segundo os espíritas: A culpa é dos espíritos obsessores, aquelas entidades invisíveis com tempo livre e muito rancor acumulado.
Os evangélicos: São mais diretos: é o capeta. Sim, o tinhoso, o encapetado, o próprio cão. Ele está à espreita, esperando você deixar o pé da cama destapado para agir.
Já os católicos: Vão sugerir que isso é consequência de você não ir à igreja. Deus tem plano pra você, mas você só aparece na missa no Natal. Não dá pra esperar milagres se você só busca bênção no último segundo do segundo tempo.
Os umbandistas: Dirão: é trabalho feito. Alguém passou na encruzilhada e ofereceu uma cachaça que, infelizmente, era pra te derrubar. O amor foi embora? Foi magia. O wi-fi caiu? Despacho digital.
O ateu: Dará de ombros: “é o caos do universo”. As coisas não fazem sentido, e está tudo bem. Se tudo der errado, é porque tudo está acontecendo ao mesmo tempo em todos os lugares.
Os bolsonaristas: Nem pensam duas vezes: a culpa é do PT. Você escorregou no banheiro? Foi o Fórum de São Paulo. O dólar subiu? Foi o Lula.
Os petistas: Estão certos de que a culpa é do Bolsonaro. O sol quente? O aquecimento global. A chuva caiu demais? Também é culpa do desgoverno anterior. E o VAR no futebol? Alguma conspiração da direita.
Os astrólogos: Consultam o céu e avisam: “Mercúrio retrógrado”. Se você assinou um contrato ruim, terminou com alguém por mensagem ou se cortou tentando abrir uma lata, é porque Vênus entrou em Capricórnio pela porta dos fundos.
O narcisista: Pra ele, a culpa é sempre dos outros: dos invejosos, dos burros, da má vontade do universo. Ele é uma vítima do mundo. Nunca o vilão.
O materialista: Vê tudo como uma equação de cifras: a culpa é da falta de dinheiro. Tá deprimido? Vai ver é porque você não pode fazer terapia na Suíça ou comprar um café de 45 reais. Tudo tem um preço. Menos a paz interior, aparentemente.
E o filósofo da vida real? Sussurra uma verdade desconfortável: a culpa pode ser sua. Sim, dói. Mas talvez você esteja errando, procrastinando, repetindo padrões tóxicos ou evitando decisões difíceis. A busca por culpados externos é, muitas vezes, uma bela desculpa para não enfrentar o espelho.
Moral da história?
É mais fácil culpar os planetas, os partidos, os encostos do que admitir que você deveria ter dito não, ter acordado mais cedo, ou simplesmente ter feito terapia. O inimigo, muitas vezes, não está lá fora com tridente ou cartaz político – ele está dentro de você, com o controle remoto na mão e uma justificativa pronta pra tudo.
Rir das desculpas é saudável. Mas refletir sobre elas é transformador.
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